Revisão de Literatura – Exc. in Reac. Journal. (Bahia) 1 (1) * out 2025 * 10.5281/zenodo.17419942
O CÉREBRO HIPERCONECTADO: QUAL O IMPACTO DA EXPOSIÇÃO DIGITAL NO NEURODESENVOLVIMENTO INFANTIL?
Autores: Julia Dias Bendini; Larissa Soares Leite; Thomaz Santi Vincensi; Lorrane Tallita Santos de Freitas; Isabela Bonilla Benke; Victor Antônio Fernandes Codognio.
RESUMO: O uso crescente de dispositivos digitais na infância tem levantado preocupações sobre seus efeitos no neurodesenvolvimento. A exposição precoce a tecnologias pode influenciar áreas cruciais como atenção, linguagem, regulação emocional e comportamento social. A neuroplasticidade das crianças torna o cérebro mais suscetível a essas influências, especialmente durante os primeiros anos, que são críticos para o desenvolvimento cerebral. Revisão sistemática nas bases de dados PubMed/MEDLINE, Scopus, PsycINFO e Scielo, com estudos publicados entre 2015 a 2025. Foram utilizados os descritores “Screen Time”, “Digital Media”, “Electronic Devices”, “Child Development”, “Neurodevelopment”, “Cognition”. Encontrou-se 13 estudos selecionados por análise crítica utilizando o método PRISMA. Em crianças de 2 a 5 anos, foi observada uma diminuição na ativação de áreas cerebrais responsáveis pela atenção e controle inibitório, além de uma preferência por recompensas imediatas, associada a dificuldades na regulação emocional. A exposição prolongada também foi correlacionada com atrasos no desenvolvimento da atenção sustentada, afetando o desempenho em tarefas cognitivas, como memória de trabalho. Além disso, o uso excessivo de telas foi associado a aumento da ansiedade, depressão e comportamentos externalizantes, como agressividade e dificuldades sociais. Em relação ao sono, crianças expostas a dispositivos antes de dormir mostraram dificuldades para iniciar o sono e menor qualidade do sono, impactando negativamente sua cognição e emocionalidade. A exposição digital excessiva pode prejudicar o neurodesenvolvimento infantil, afetando áreas como atenção, controle emocional e comportamento social. Contudo, o uso mediado de tecnologias pode trazer benefícios educacionais, sendo essencial equilibrar a exposição para promover um desenvolvimento saudável.
Palavras-chave: Exposição Digital. Neurodesenvolvimento. Desenvolvimento Infantil.
INTRODUÇÃO:
O uso crescente de dispositivos digitais na infância tem gerado preocupações sobre os impactos potenciais no neurodesenvolvimento infantil. Com a proliferação de smartphones, tablets e outros aparelhos desde os primeiros anos de vida, crianças estão cada vez mais expostas a conteúdos digitais, muitas vezes sem supervisão. Esta exposição precoce pode afetar processos cognitivos, emocionais e comportamentais durante um período crítico de desenvolvimento cerebral.
A neuroplasticidade das crianças, embora positiva para a aprendizagem, também torna o cérebro mais suscetível a influências externas, e o uso excessivo de tecnologias pode interferir em áreas cruciais do desenvolvimento, como a atenção, a linguagem, o comportamento social e a regulação emocional.
O objetivo desta pesquisa é avaliar os impactos da exposição digital no neurodesenvolvimento de crianças de 0 a 12 anos.
METODOLOGIA
Foi realizada uma revisão sistemática por meio da seleção de estudos nas bases de dados PubMed/MEDLINE, Scopus, PsycINFO e Scielo, publicados entre os anos de 2015 a 2025. Os descritores utilizados foram “Screen Time”, “Digital Media”, “Electronic Devices”, “Mobile Phones”, “Internet Use”, “Child Development”, “Neurodevelopment”, “Brain Development”, “Cognition”, “Attention”, “Executive Function”, “Behavior”, “Emotional Development”, “Adults”, “Adolescents”.
A busca foi complementada com análise manual das referências bibliográficas dos estudos incluídos, com o objetivo de identificar publicações relevantes não capturadas nas buscas iniciais. Encontraram-se 107 estudos, dos quais 13 foram selecionados por meio de análise crítica utilizando o método PRISMA.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A análise revelou diversos impactos da exposição digital no neurodesenvolvimento infantil, com destaque para alterações no comportamento, funções executivas, e desenvolvimento cognitivo e emocional. Os efeitos da exposição prolongada a dispositivos digitais e telas foram especialmente evidentes em crianças com idades entre 2 e 5 anos, período crucial para o desenvolvimento da linguagem e da regulação emocional.
Em termos de neurodesenvolvimento, foi observada uma diminuição na ativação de áreas cerebrais responsáveis pela atenção e controle inibitório, com algumas crianças apresentando dificuldades significativas em manter o foco em tarefas simples e a impulsividade elevada. Esse impacto foi especialmente pronunciado em crianças expostas a conteúdos digitais de forma não supervisionada e sem mediação dos pais. Além disso, as alterações nos circuitos cerebrais de recompensa foram associadas ao aumento da preferência por recompensas imediatas e à diminuição da capacidade de lidar com frustrações e atrasos, características típicas de dificuldades no controle emocional.
Em relação à atenção e funções executivas, vários estudos indicaram que a exposição prolongada a telas pode atrasar o desenvolvimento da atenção sustentada. Crianças com uso excessivo de dispositivos digitais, em especial as que usavam mais de 3 horas por dia, mostraram um desempenho inferior em tarefas de atenção seletiva e memória de trabalho. Isso sugere que a exposição digital excessiva pode comprometer o funcionamento adequado dessas funções, fundamentais para o aprendizado e adaptação social. No que tange ao desenvolvimento emocional e comportamental, os estudos identificaram um aumento nas taxas de ansiedade e depressão entre crianças expostas a altos níveis de uso de redes sociais e dispositivos digitais.
Além disso, foi notada uma correlação entre o uso excessivo de tecnologias e o aumento de comportamentos externalizantes, como agressividade e dificuldades em interações sociais. Crianças que passavam mais tempo em dispositivos digitais apresentaram também níveis mais elevados de estresse emocional, com dificuldades em processar emoções complexas e em manter vínculos sociais saudáveis. Outro achado relevante foi o impacto da exposição digital no sono. Crianças que usavam dispositivos antes de dormir apresentaram dificuldades em iniciar o sono e menor qualidade do sono, o que comprometeu diretamente sua cognição e regulação emocional no dia seguinte.
Por outro lado, os estudos também indicaram que o uso de dispositivos digitais de forma moderada e supervisionada, especialmente em contextos educativos, teve efeitos positivos no desenvolvimento cognitivo e social, principalmente quando as crianças interagiam com conteúdos digitais que incentivavam a aprendizagem ativa e colaborativa.
CONCLUSÃO
A exposição digital excessiva tem mostrado impactos significativos no neurodesenvolvimento infantil, particularmente em áreas como atenção, controle emocional, comportamento e aprendizado. O uso descontrolado de tecnologias pode resultar em déficits nas funções executivas e comportamentais, afetando o desenvolvimento cognitivo e emocional das crianças. No entanto, a mediação ativa dos pais e o uso direcionado e educativo de dispositivos digitais podem mitigar muitos desses efeitos negativos. É crucial estabelecer estratégias para equilibrar a exposição digital e garantir que as crianças se beneficiem da tecnologia sem comprometer seu desenvolvimento saudável.
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