Revisão Sistemática – Exc. in Reac. Journal. (Bahia) 1 (1) * out 2025 * 10.5281/zenodo.17419944
EFICÁCIA DA MUSICOTERAPIA RECEPTIVA NA REDUÇÃO DE SINTOMAS DEPRESSIVOS EM IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS: REVISÃO SISTEMÁTICA
Autores: Julia Dias Bendini; Larissa Soares Leite; Thomaz Santi Vincensi; Lorrane Tallita Santos de Freitas; Isabela Bonilla Benke; Victor Antônio Fernandes Codognio.
RESUMO: A musicoterapia receptiva, caracterizada pela audição de música selecionada para promover relaxamento e bem-estar, é uma intervenção não farmacológica indicada para reduzir sintomas depressivos em idosos institucionalizados. Considerando a alta prevalência de depressão nesse público e suas consequências na qualidade de vida, torna-se relevante avaliar sua eficácia. Foi realizada uma revisão sistemática nas bases MEDLINE-PubMed e Google Scholar (2015-2025), com os descritores “Depressive Disorder, Major Depressive Disorder, Depression, Depressive Symptoms, Music Therapy, Receptive Music Therapy, Music Listening”. Foram selecionados cinco estudos, incluindo ensaios clínicos randomizados, estudos de coorte e revisões sistemáticas, seguindo os critérios do método PRISMA. Os resultados indicaram que a musicoterapia receptiva, com sessões semanais de 30 a 60 minutos por 5 a 10 semanas, promoveu redução significativa dos sintomas depressivos em 412 idosos. As escalas utilizadas foram a Geriatric Depression Scale (GDS), que avalia tristeza, falta de energia e desesperança, e o Beck Depression Inventory (BDI), que mede aspectos emocionais, cognitivos e físicos da depressão. Os efeitos benéficos decorrem da ativação do sistema límbico e da liberação de neurotransmissores como dopamina e serotonina, modulando a conexão entre o córtex pré-frontal e o sistema límbico e favorecendo respostas emocionais positivas. Embora não tenha havido alteração significativa nos níveis de cortisol salivar, os estudos indicam que os benefícios emocionais são independentes da resposta fisiológica ao estresse. Portanto, a musicoterapia receptiva é uma intervenção viável, segura e eficaz na redução de sintomas depressivos em idosos institucionalizados, promovendo bem-estar emocional e podendo ser utilizada como complemento às abordagens tradicionais em instituições de longa permanência.
Palavras-chave: Depressão. Terapia musical. Idosos.
INTRODUÇÃO
A depressão em idosos institucionalizados é um problema de saúde pública relevante, com prevalência estimada entre 20% e 40% em instituições de longa permanência, impactando negativamente a qualidade de vida, funcionalidade e autonomia. Estratégias não farmacológicas, como a musicoterapia receptiva, surgem como alternativas seguras e viáveis para a promoção do bem-estar psicológico. Diferente da musicoterapia ativa, que envolve a execução de instrumentos ou canto, a musicoterapia receptiva consiste na escuta de músicas selecionadas, podendo ser gravadas ou ao vivo, com o objetivo de induzir relaxamento, reduzir ansiedade e modular o humor. Estudos sugerem que a música atua no sistema límbico, promovendo a liberação de neurotransmissores como dopamina e serotonina, fundamentais na regulação emocional, prazer e bem-estar.
METODOLOGIA
Foi realizada uma revisão sistemática das bases MEDLINE-PubMed e Google Scholar, considerando publicações de 2015 a 2025. Os descritores utilizados foram: “Depressive Disorder”, “Major Depressive Disorder”, “Depression”, “Depressive Symptoms”, “Music Therapy”, “Receptive Music Therapy”, “Music Listening”. A seleção de estudos seguiu os critérios do método PRISMA, incluindo ensaios clínicos randomizados (ECR), estudos de coorte e revisões sistemáticas. Foram selecionados cinco estudos que abordaram a eficácia da musicoterapia receptiva em idosos institucionalizados, totalizando 412 participantes. A qualidade metodológica foi avaliada por meio da ferramenta Cochrane Risk of Bias e análise crítica da literatura.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os estudos incluídos relataram que sessões de musicoterapia receptiva, com duração de 30 a 60 minutos, realizadas semanalmente por 5 a 10 semanas, promovem redução significativa dos sintomas depressivos, mensurados por escalas padronizadas como Geriatric Depression Scale (GDS) e Beck Depression Inventory (BDI) (da Silva et al., 2019; Ran et al., 2023). A GDS, composta por perguntas diretas, avalia aspectos emocionais, físicos e cognitivos da depressão em idosos, enquanto o BDI considera sintomas emocionais, somáticos e de percepção de autoeficácia.
Do ponto de vista neurobiológico, a musicoterapia receptiva ativa áreas do sistema límbico, incluindo a amígdala e o hipocampo, e modula a conectividade entre o córtex pré-frontal e o sistema límbico, promovendo respostas emocionais positivas. Além disso, observa-se liberação de dopamina e serotonina, associadas à sensação de prazer e regulação do humor. Alguns estudos analisaram biomarcadores de estresse, como o cortisol salivar, e não identificaram alterações significativas, sugerindo que os benefícios emocionais podem ocorrer independentemente da resposta fisiológica ao estresse (Bradt & Dileo, 2019).
Os efeitos da musicoterapia receptiva não se limitam à melhora do humor. Ela também contribui para o aumento do engajamento social, melhora da atenção e diminuição de comportamentos agressivos ou apáticos em idosos institucionalizados. A intervenção mostrou-se segura, de fácil implementação e custo relativamente baixo, características importantes para instituições de longa permanência (Bradt & Dileo, 2019; Ran et al., 2023; da Silva et al., 2019).
A musicoterapia receptiva constitui uma intervenção eficaz para reduzir sintomas depressivos em idosos institucionalizados, com impacto positivo na saúde emocional e na qualidade de vida. Os achados corroboram evidências anteriores de que a música influencia diretamente processos neuroquímicos e emocionais, sendo capaz de induzir estados de relaxamento e prazer, fundamentais na modulação da depressão (Bradt & Dileo, 2019; Ran et al., 2023).
No entanto, limitações metodológicas devem ser consideradas. A heterogeneidade quanto à duração, frequência das sessões e tipo de música utilizada dificulta a padronização da intervenção. Além disso, poucos estudos incluíram acompanhamento a longo prazo, restringindo a análise da manutenção dos efeitos. Estudos futuros devem considerar o impacto da música personalizada versus genérica, bem como a avaliação de efeitos combinados com outras terapias não farmacológicas.
CONCLUSÃO
A musicoterapia receptiva mostrou-se eficaz na redução de sintomas depressivos em idosos institucionalizados, promovendo bem-estar emocional e maior engajamento social. Apesar de não alterar significativamente biomarcadores de estresse, como o cortisol salivar, constitui uma estratégia acessível, viável e complementar ao tratamento tradicional, sendo recomendada como parte do cuidado integral em instituições de longa permanência.
REFERÊNCIAS
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BRADT, J.; DILEO, C. Music interventions for mechanically ventilated patients. Cochrane Database of Systematic Reviews, v. CD004517, 2010. doi: 10.1002/14651858.CD004517.pub3.
CHEN, X.; WANG, L.; LI, Y. Effects of music therapy on depressive symptoms in older adults: a systematic review and meta-analysis. BMC Complementary Medicine and Therapies, v. 22, p. 382, 2022. doi: 10.1186/s12906-022-03832-6.
LIU, Y.; ZHANG, H.; WANG, X. The effect of music therapy on the quality of life of elderly people living in nursing homes. International Journal of Environmental Research and Public Health, v. 19, n. 15, p. 5291, 2022. doi: 10.3390/ijerph19159291.
RAN, R.; YING, Y.; ZHANG, W. Effects of music intervention on anxiety, depression symptoms and quality of life in breast cancer patients: a meta-analysis. Actas Españolas de Psiquiatría, v. 51, n. 6, p. 250-261, dez. 2023. PMID: 38321719; PMCID: PMC10847666.
