Revisão de Literatura – Exc. in Reac. Journal. (Bahia) 1 (1) * jan 2025
VISITA DOMICILIAR E A SUA IMPORTÂNCIA NO RASTREIO DE PATOLOGIAS POR UMA EQUIPE MULTIPROFISSIONAL DE SAÚDE: SÍNTESE INTEGRATIVA DA LITERATURA
Autores: Natalia D’avila Rodrigues Pereira, Tereza Raquel Xavier Viana
RESUMO: A visita domiciliar desempenha um papel fundamental no rastreio precoce de patologias e no acompanhamento contínuo de pacientes em seu ambiente familiar, é uma ação que favorece a construção de conhecimentos a partir dos problemas existentes nas comunidades, principalmente envolvendo uma equipe multiprofissional, que torna o cuidado integral e de qualidade. Este trabalho tem como objetivo analisar na literatura a eficácia das visitas domiciliares realizadas por equipes multiprofissionais no rastreamento de patologias, destacando sua importância e os desafios associados a essa prática. Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, realizada nas bases de dados Periódicos CAPES e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS). Foram incluídos 16 artigos que atenderam aos seguintes critérios: publicados entre 2019 e 2024, em inglês e/ou português, alinhados ao tema proposto e classificados como estudos observacionais ou de prevalência. Os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) utilizados na pesquisa foram: “Equipe Multiprofissional”, “Visita Domiciliar” e “Saúde”. A equipe multiprofissional, amplia a capacidade de diagnóstico, promovendo intervenções preventivas e reabilitadoras que promovem a integralidade do cuidado. A integração de diferentes áreas do conhecimento permite a identificação precoce de doenças, mas também a orientação e o suporte adequados ao paciente e sua família. Estudos reforçam a importância da equipe multidisciplinar no processo do cuidado as comunidades, onde sua atuação garante um atendimento humanizado, integral, contínuo e que garante melhoria na qualidade de vida, ao passo que conhecendo a realidade em que cada família vive e os fatores de risco a patologias, promovem a descoberta de doenças como: diabetes, hipertensão e doenças respiratórias entre outras, de forma precoce e a reabilitação de agravos existentes nas mais variadas faixas etárias. Isso pode ser significativamente otimizado com visitas regulares de uma equipe qualificada. Há desafios no decorrer do processo, mais a equipe da unidade sendo capacitada e capacitando acadêmicos e profissionais junto as vivencias, torna o processo mais possível de execução.
Palavras-chave: Equipe Multiprofissional, Prevenção, Rastreamento de Patologias, Saúde Pública, Visita Domiciliar.
INTRODUÇÃO:
A visita domiciliar é uma prática fundamental na Atenção Primária à Saúde (APS), pois facilita a construção de conhecimentos a partir das realidades e problemas encontrados nas comunidades. Essa ação proporciona uma formação humanizada para estudantes e profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS), ao mesmo tempo em que fortalece o vínculo entre os profissionais de saúde e a população. Nesse processo, os agentes comunitários de saúde desempenham um papel crucial, atuando como elo entre a população e a atenção básica. Eles promovem reflexão, disseminam conhecimento e oferecem cuidado, contribuindo significativamente para a melhoria da saúde coletiva (Alves, 2021).
Os serviços de APS possuem um conhecimento profundo sobre os moradores de sua área de atuação, permitindo identificar fatores condicionantes e determinantes de saúde específicos da comunidade. Essa compreensão facilita o planejamento de intervenções mais eficazes e adaptadas às necessidades individuais e coletivas. Nesse contexto, as visitas domiciliares realizadas por equipes multiprofissionais são essenciais, pois permitem o reconhecimento da singularidade de cada indivíduo, favorecendo a identificação de aspectos que possam comprometer a prevenção ou o tratamento de doenças. O acompanhamento regular de grupos vulneráveis, como puérperas, recém-nascidos, idosos e pessoas acamadas, contribui para um atendimento mais personalizado e eficaz (Magagnin, 2024).
A complexidade no manejo de doenças raras na APS é um desafio devido às dificuldades de diagnóstico, tratamento e acesso a serviços especializados, agravado pela ausência de contrarreferência de outras especialidades, que compromete a continuidade e a coordenação do cuidado. Uma comunicação clara sobre os serviços disponíveis é essencial para que a população compreenda suas opções e busque assistência de forma informada. Além disso, a participação de acadêmicos em visitas domiciliares contribui para a formação de profissionais mais seguros e capacitados, ampliando o alcance do atendimento e promovendo a colaboração entre diferentes áreas, o que beneficia pacientes e aprimora a qualidade do cuidado prestado (Noronha, 2021).
Durante as visitas, médicos, enfermeiros, dentistas, fisioterapeutas, psicólogos e agentes comunitários de saúde trabalham de forma integrada, desenvolvendo estratégias de gestão e avaliação que abordam tanto os aspectos gerenciais da saúde quanto as necessidades clínicas dos pacientes. Esse trabalho conjunto permite um planejamento adequado das intervenções e acompanhamento das condições crônicas, promovendo a saúde e o bem-estar do indivíduo de forma mais eficaz e integral (Alves, 2021; Noronha, 2021). Assim, as equipes multiprofissionais garantem uma abordagem holística, que vai além do tratamento de doenças, promovendo a melhoria da qualidade de vida e o bem-estar da população.
Este estudo tem como objetivo analisar a eficácia das visitas domiciliares realizadas por equipes multiprofissionais no rastreamento de patologias, explorando sua importância e os desafios associados a essa prática.
METODOLOGIA:
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, realizada no mês de Setembro de 2024, utilizando as bases de dados Periódicos CAPES e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS). Foram encontrados 50 artigos, dos quais 16 atenderam aos critérios de inclusão: artigos publicados nos últimos cinco anos (2019 – 2024), na língua inglesa e/ou portuguesa, alinhados à temática proposta e que sejam estudos observacionais e de prevalência.
Os critérios de exclusão incluíram artigos que não abordavam o objetivo do estudo e duplicados. Os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) utilizados foram: “Equipe Multiprofissional”, “Visita Domiciliar” e “Saúde”, combinadas ao operador booleano “AND” (Figura 1). A metodologia foi selecionada para garantir a inserção dos artigos mais relevantes e atualizados, fornecendo uma visão abrangente sobre o tema a ser abordado.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Inicialmente foram selecionados 50 trabalhos, dos quais 16 artigos científicos atenderam aos critérios de inclusão e exclusão e foram, assim, incluídos na pesquisa. Após a leitura completa de cada artigo, elaborou-se uma tabela destacando as principais características e tópicos relevantes para este estudo (Tabela 1).
Tabela 1 – Apresentação dos artigos incluídos na revisão.
Dutra et al. (2022) | Relatar as principais ações, como as visitas domiciliares, que tinham o enfoque na atenção primária à saúde, a busca ativa de demandas urgentes dos usuários e a importância delas no cuidado em saúde de uma comunidade incluída no Projeto Rede de Cuidados Territoriais, realizado pela Universidade de Passo Fundo, Brasil. | Relato de experiência Local: Passo Fundo. | Projeto foi essencial para o conhecimento sobre o território e sua importância, sobre a estratégia da rede de atenção à saúde, criada entendendo os sujeitos na sua singularidade e complexidade, relacionando as patologias com suas condições biopsicossociais, seu modo de vida, de trabalho, o local em que o indivíduo está inserido. |
Mestriner et al. (2022) | Relatar a experiência oriunda das atividades de ensino realizadas no estágio acadêmico dos alunos do 7º e 8º períodos do curso de Fisioterapia da Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP) | Relato de experiência. Vivenciaram a experiência 96 estagiários (48 por ano). Realizado em Ribeirão Preto. | A experiência no território permitiu: ampliar a vivência dos discentes na ESF, possibilitando a observação e a reflexão sobre o trabalho em equipe nesse contexto; e sensibilizar os acadêmicos para as necessidades em saúde da população e discutir essas necessidades a partir da educação em saúde. |
Paixão et al. (2022) | Descrever e analisar as ações e as atividades realizadas pelos estudantes de TO participantes do Projeto Multicampi Saúde da Criança à clientela de mães e crianças, pautadas na CC no contexto da AB. | Pesquisa de caráter quantitativo, descritivo e retrospectivo, Com análise dos diários de campo dos discentes do curso de TO que participaram do Projeto Multicampi Saúde da Criança, por dois pesquisadores. Realizado no RJ. | O domicílio do usuário configura-se como um local potencial para obter melhores resultados, uma vez que é o contexto no qual se encontram os fatores e as condições reais do usuário, os TA são aqueles que reorganizam hábitos, rotinas, papéis sociais e atividades de vida diária. |
Alencar et al. (2023) | Relatar a experiência de profissionais de saúde residentes em Saúde da Família e Comunidade dos núcleos profissionais de enfermagem, nutrição e odontologia em visitas puerperais. | Relato de experiência de quatro profissionais-residentes das categorias de enfermagem, odontologia e nutrição da RIS/ESP/CE, realizado em Iguatu-Ce. | A equipe multiprofissional nas visitas puerperais foi uma experiência de grande relevância tanto para as profissionais de saúde como para os pacientes, pois possibilitou, através da educação em saúde, a ampliação do cuidado com a saúde materno-infantil, o fornecimento de orientações e, com isso, a melhoria da qualidade de saúde. |
Bezerra et al. (2023) | Descrever o cuidado prestado às crianças com necessidades especiais de saúde nos Serviços de Atenção Domiciliar do estado de Mato Grosso do Sul. | Pesquisa quantitativa, descritiva e exploratória. . Participaram do estudo todos os oito serviços do estado, pertencentes às seguintes categorias profissionais: enfermeiros (quatro), fisioterapeutas (dois), médico (um) e nutricionista (um). Realizado em Mato Grosso do Sul. | Embora os serviços possam expandir o atendimento e utilizem o Plano Terapêutico Singular, ainda são necessários avanços na assistência às crianças e famílias. Recomenda-se a criação de protocolos de fluxo e propostas organizacionais para apoiar os profissionais em sua prática. |
Benitez et al. (2023) | Relatar a experiência da Visita domiciliar realizada por acadêmicos do curso de Medicina junto a profissionais que integram a equipe multiprofissional do Centro de Nutrição Infantil. | Estudo descrito, exploratório, com abordagem qualitativa, realizado em Foz do Iguaçu, no Centro de Nutrição Infantil (CENNI). Foram analisados os discursos redigidos nos diários de campo de dois acadêmicos e de três profissionais que compõem a equipe multiprofissional, com a utilização de um diário de campo para coleta das informações. | Demonstra-se importância dessa prática nos espaços de formação, visando o estabelecimento de vínculo e a resolutividade dos problemas dos usuários de forma integral e humanizada. |
Lavezzo et al. (2023) | Identificar estratégias adotadas por profissionais atuantes na atenção básica à saúde, em um município da região Sul do Brasil, e analisar suas percepções sobre fatores dificultadores e facilitadores no cuidado a pessoas com necessidades decorrentes do uso de substâncias | Estudo qualitativo estudo qualitativo, contou-se com a participação de 11 profissionais de saúde. Estudo quantitativo composta por 32 profissionais de saúde vinculados à AB, representando 16 das 31 unidades de um município do litoral norte de Santa Catarina. | As principais estratégias e fatores facilitadores identificados foram o acolhimento à demanda espontânea, a visita domiciliar e o envolvimento da família na identificação, e a articulação dos serviços, matriciamento, vínculo, e a multidisciplinaridade na intervenção. |
Magagnin et al. (2024) | Compreender a atuação das equipes de APS no cuidado às pessoas com Acidente Vascular Cerebral após a alta hospitalar. | Estudo de caso único, com unidades de análise integradas, de abordagem qualitativa. Envolveu 35 participantes. | Evidencia-se a importância da contrarreferência, o papel do Agente Comunitário de Saúde e da equipe multiprofissional, promoção da saúde, prevenção secundária, visita domiciliar como atributo visceral e enfermeiro como gestor do cuidado. |
Fonte: Processo de pesquisa literária – elaborado pelos autores.
A Atenção Domiciliar é referida como um tipo de atendimento realizado em domicílio sendo do paciente, promove condições de continuidade de tratamento fora de unidades hospitalares, em casos de pacientes que não possuem capacidade em se deslocar aos serviços de saúde, possui o objetivo de prevenir, controlar e tratar agravos, promovendo medidas paliativas e também reabilitadoras, visando a melhoria da qualidade de vida. Diante disso, uma equipe multidisciplinar gera um cuidado integrado ao paciente, proporcionando uma saúde de qualidade a população assistida(Reis, 2021).
As práticas em saúde são direcionadas pelas formas de compreender o mundo dos indivíduos, o usuário necessita do serviço de saúde por motivos e causas variados. As práticas assistenciais e os serviços de saúde disponibilizados são voltados para o que os profissionais compreendem como necessidades, diante disso, as visitas domiciliares geram conhecimento da realidade das pessoas, facilitando o conhecimento dos fatores de risco e determinantes sociais que possam comprometer a saúde dos indivíduos. O campo da saúde envolve conhecimentos variados e pode se configurar da multidisciplinaridade, com profissionais de diferentes áreas, propondo a integralidade do cuidado (Magagnin, 2024).
De acordo com Dutra et al. (2022), que investigaram as principais ações na atenção primária à saúde, como as visitas domiciliares, foi constatado que essas visitas proporcionaram um entendimento mais profundo sobre a saúde geral da comunidade. Além de atender demandas urgentes, as visitas domiciliares permitiram que os profissionais compreendessem o contexto familiar e comunitário, fortalecendo o vínculo entre a equipe e a população assistida. No entanto, os pesquisadores destacaram que, apesar dos benefícios, desafios como a resistência de moradores e a dificuldade de criação de vínculos ainda persistem, comprometendo a adesão ao tratamento e o sucesso da intervenção. Além disso, foi evidenciado que a formação dos profissionais de saúde, muitas vezes desconectada da prática integrada e interprofissional, pode ser um fator que contribui para a fragmentação dos cuidados no SUS.
Em pesquisa realizada por Alves et al. (2021), foi observado que a atuação da equipe de saúde e o processo de acolhimento formam a base para a criação de uma relação de confiança com os usuários, o que facilita o processo de cuidados continuados. A experiência de ir até as comunidades em situação de vulnerabilidade social permitiu que estudantes e profissionais de saúde se envolvessem mais diretamente com as realidades locais, observando e respondendo a demandas como a promoção da saúde e prevenção de doenças. Esse tipo de abordagem é fundamental para a formação de profissionais mais sensíveis às necessidades da população e mais comprometidos com uma prática de cuidado integral.
No estudo de Cavalcante et al. (2022), foi verificado que, embora a maioria das equipes de saúde realizasse as visitas domiciliares com frequência adequada, algumas não seguiam a regularidade ideal, o que poderia comprometer a continuidade da assistência domiciliar. Além disso, a garantia da integralidade do cuidado foi destacada, com ênfase na importância da comunicação entre diferentes setores e serviços, utilizando sistemas de registro como o PEP (Prontuário Eletrônico do Paciente) para garantir o acompanhamento contínuo e eficaz. A integração entre os serviços da Rede de Atenção à Saúde (RAS) e a disseminação da informação para a comunidade sobre os serviços disponíveis foram apontados como estratégias essenciais para assegurar a continuidade e a efetividade do cuidado.
Magagnin et al. (2024) destacaram a relevância das equipes da APS na continuidade do cuidado pós-hospitalar, especialmente no acompanhamento de pacientes que sofreram Acidente Vascular Cerebral (AVC). O estudo evidenciou a importância da abordagem multiprofissional, que inclui a promoção de hábitos de vida saudáveis e a reabilitação individualizada. No entanto, observou-se que, apesar das visitas domiciliares serem parte do trabalho das equipes de APS, não havia uma programação adequada para a continuidade do acompanhamento, o que compromete a eficiência do processo de cuidado. O planejamento adequado da assistência, especialmente nas primeiras semanas após a alta hospitalar, é crucial para detectar as necessidades do paciente e da família.
Reis et al. (2021) ressaltaram que a Atenção Domiciliar pode reduzir significativamente os custos hospitalares, além de diminuir complicações como infecções hospitalares. A transferência do paciente do hospital para a residência também facilita a liberação de leitos e contribui para a redução das iatrogenias. O estudo apontou que o público mais atendido pelo Serviço de Assistência Domiciliar (SAD) é composto por idosos, especialmente mulheres, com condições como hipertensão, AVC e demência. Nesse sentido, a APS desempenha papel fundamental como primeiro nível de cuidado, promovendo o atendimento domiciliar por meio de visitas regulares, que permitem identificar as necessidades dos pacientes e definir as estratégias adequadas de cuidado.
O acompanhamento de mulheres no puerpério e recém-nascidos também representa um aspecto relevante da Atenção Domiciliar, uma vez que pode reduzir complicações de saúde tanto para a mãe quanto para o bebê. O suporte de uma equipe multiprofissional, que avalia e orienta sobre condições de saúde e doenças, é crucial para garantir uma boa prevenção, tratamento e qualidade de vida (Alencar et al., 2023).
Bezerra et al. (2023) destacam que o acompanhamento multiprofissional no atendimento domiciliar a crianças com necessidades especiais de saúde no estado de Mato Grosso do Sul é essencial para garantir a continuidade do cuidado. As visitas semanais envolvem profissionais habilitados que realizam procedimentos mais complexos, como a aspiração das vias aéreas e a realização de curativos. No entanto, uma limitação importante observada foi a falta de uma perspectiva das famílias sobre o cuidado oferecido, o que reforça a necessidade de mais orientações para aumentar a autonomia das famílias no cuidado domiciliar.
De acordo comLavezzo et al. (2023), a identificação precoce das demandas de saúde, incluindo o uso de drogas, é essencial para uma intervenção eficaz. As estratégias de acolhimento, visita domiciliar e envolvimento da família são cruciais para estabelecer um vínculo de confiança com os usuários, o que facilita a implementação de cuidados mais integrados e eficazes (Cardoso et al., 2021).
Nardino et al. (2021), em sua pesquisa sobre as significações dos cuidados paliativos para os profissionais de uma equipe de atenção domiciliar, destacam a importância do trabalho integrado em equipe. Para os profissionais, a abordagem multiprofissional é fundamental, com um caráter interdisciplinar que potencializa a troca de experiências e aprendizados.
As ações relacionadas as visitas domiciliares, na maioria das vezes podem apresentar desafios como devido a exigência crescente de desenvolvimento de habilidades interpessoais de adequação ao contexto que a ação ocorre. Como respostas pode-se observar relatos de um participante da pesquisa de Benitez et al., (2023):
“Foi possível conhecer o processo de trabalho em equipe incluindo a abordagem as famílias, a forma de realização de entrevistas e orientações, como também as dificuldades do acompanhamento dos casos das crianças. Além disso, foi possível vivenciar as dificuldades de adesão as orientações recebidas pelos profissionais” (DCA 11)(Benitez et al., 2023).
No âmbito da atenção domiciliar, projetos como o Multicampi Saúde têm se mostrado importantes para promover a prática das visitas. Este projeto, com foco na Política de Atenção à Saúde da Criança, implementa cursos introdutórios sobre a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança (PNAISC) para docentes, preceptores e discentes. Os alunos, sob a supervisão das preceptoras, acompanham crianças e realizam visitas domiciliares, observando as condições reais de saúde das famílias e fornecendo intervenções mais eficazes e personalizadas (Noronha et al., 2021).
Apesar da importância das visitas domiciliares, alguns profissionais relatam dificuldades, como a falta de tempo para realizá-las, visto que muitos serviços estão concentrados nas UBSF. Além disso, a classe médica ainda não adota as visitas domiciliares como rotina, uma vez que a maioria dos lactentes busca atendimento nas unidades de saúde. Paixão et al. (2022), em sua análise de 37 diários de campo de discentes do Projeto Multicampi em cinco municípios do Pará, revelaram que as visitas domiciliares, quando combinadas com orientações familiares, resultam em um cuidado mais eficaz e contribuem para a melhoria da saúde infantil. O acompanhamento de terapeutas ocupacionais nessas visitas é destacado, pois eles têm a capacidade de reorganizar hábitos de vida que impactam positivamente a saúde dos indivíduos.
A pesquisa Mestriner et al. (2022) também ressaltou a importância das visitas domiciliares na promoção da saúde e prevenção de doenças. Durante o acompanhamento das famílias, foram realizadas avaliações físicas e de segurança no ambiente domiciliar, além de orientações sobre medicamentos e atualização de cadastros e vacinação. As visitas domiciliares permitiram aos estudantes compreenderem que esse é um instrumento essencial para a equipe de Saúde da Família, pois oferece uma visão abrangente do território e das necessidades da população, facilitando um planejamento eficaz das intervenções.
No entanto, as visitas domiciliares não são isentas de desafios. A prática revela-se essencial para fortalecer o vínculo entre os profissionais e as famílias, permitindo que se conheça melhor o contexto de vida dos pacientes e proporcionando um cuidado integral. No entanto, a falta de tempo e a escassez de profissionais dedicados à atenção domiciliar são obstáculos significativos. Em suas reflexões sobre a experiência dos acadêmicos, Souza et al. (2020) destacaram que a realização de consultas domiciliares e em consultórios oferece uma oportunidade valiosa para fortalecer o vínculo entre os profissionais de saúde e os pacientes, ampliando a compreensão sobre as necessidades de saúde e a adesão ao tratamento.
Por fim, conforme observado por Farão & Penna (2019), a integração da equipe multiprofissional e o vínculo com o paciente são fundamentais para a identificação e o atendimento das necessidades de saúde visíveis e invisíveis. Profissionais comprometidos com a saúde integral dos indivíduos conseguem, com o tempo, perceber as necessidades além das questões orgânicas, proporcionando um cuidado mais completo e eficaz. O trabalho em equipe é essencial para enfrentar os desafios da atenção à saúde, promovendo a integralidade e o acolhimento dos usuários.
Esses estudos mostram que a Atenção Domiciliar, quando bem estruturada e apoiada por uma equipe multiprofissional, pode não apenas melhorar a saúde dos pacientes, mas também reduzir custos para o sistema de saúde. A continuidade do cuidado, a integração entre os serviços e a abordagem holística do paciente são fatores essenciais para o sucesso dessas estratégias. A implementação de práticas mais colaborativas e bem planejadas nas visitas domiciliares pode, portanto, fortalecer ainda mais a rede de cuidado e promover um atendimento mais eficiente e humanizado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em suma, a importância das visitas domiciliares na atenção à saúde, especialmente no contexto da atenção primária e dos cuidados paliativos. A prática da visita domiciliar, quando realizada de forma integrada e com a participação de uma equipe multiprofissional, possibilita um cuidado mais eficaz, centrado nas necessidades reais das famílias, e contribui para a melhoria da qualidade de vida dos pacientes.
Embora existam desafios, como a falta de tempo e a escassez de profissionais disponíveis, os benefícios dessa abordagem são evidentes, especialmente na construção de vínculos e no conhecimento mais profundo do contexto de vida dos pacientes. Projetos como o Multicampi Saúde demonstram a eficácia das visitas domiciliares na promoção da saúde e no fortalecimento da educação em saúde, além de permitir intervenções mais precisas e personalizadas.
A experiência prática e a formação de equipes capacitadas para lidar com as necessidades de saúde dos usuários são essenciais para a promoção de cuidados mais integrados e eficazes. Portanto, é fundamental o incentivo e a ampliação das visitas domiciliares como estratégia de cuidado, com a adoção de políticas públicas que garantam a continuidade e a qualidade dessas práticas nos diferentes territórios.
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