Revisão de Literatura – Exc. in Reac. Journal. (Bahia) 1 (1) * jan 2025
INTERVENÇÕES TERAPÊUTICAS E FATORES PSICOSSOCIAIS NA QUALIDADE DE VIDA DE MULHERES COM ENDOMETRIOSE: UMA REVISÃO INTEGRATIVA
Autores: Wilianne da Silva Gomes: Tereza Raquel Xavier Viana
RESUMO: A endometriose é uma condição crônica que afeta cerca de 10% das mulheres em idade reprodutiva, caracterizada pela presença de tecido semelhante ao endométrio fora da cavidade uterina. Essa condição, que pode impactar ovários, intestinos, trompas e bexiga, é frequentemente subdiagnosticada devido à ausência de métodos diagnósticos não invasivos amplamente disponíveis. As principais queixas das portadoras incluem dor intensa, dismenorreia, dispareunia e infertilidade, que afetam negativamente seu bem-estar físico e emocional, limitando suas atividades diárias e aumentando o risco de transtornos psicológicos, como depressão e ansiedade. Analisar o impacto de intervenções terapêuticas e fatores psicossociais na qualidade de vida de mulheres com endometriose, com foco no manejo dos sintomas e no bem-estar geral. Trata-se de uma revisão integrativa da literatura. A metodologia incluiu a análise de artigos publicados nos últimos cinco anos (2019 – 2024), nas bases de dados PubMed, MEDLINE e LILACS. Dos 38 artigos encontrados, cinco atenderam aos critérios de inclusão. Os resultados indicaram que intervenções como atividade física, suporte psicológico e acupuntura reduzem a dor e melhoram a qualidade de vida de mulheres com endometriose. Fatores psicossociais, como ansiedade e depressão, influenciam a percepção da dor, reforçando a necessidade de abordagens integradas. Além disso, a má qualidade do sono agrava os sintomas, destacando a importância de estratégias multidisciplinares para o manejo eficaz da doença. Em suma, as intervenções multidisciplinares, incluindo exercícios físicos, suporte psicológico e manejo dos distúrbios do sono, são fundamentais para melhorar a qualidade de vida de mulheres com endometriose. Além do controle da dor, é essencial abordar fatores emocionais e sociais que agravam os sintomas. Estratégias personalizadas e estudos futuros são necessários para otimizar o tratamento e promover o bem-estar global das pacientes.
Palavras-chave: Diagnóstico precoce, Dor crônica, Endometriose, Qualidade de vida.
INTRODUÇÃO
A endometriose é uma doença ginecológica crônica e progressiva caracterizada pela presença de tecido endometrial fora do útero, o que desencadeia uma série de sintomas, sendo a dor pélvica crônica um dos mais prevalentes. Essa condição afeta cerca de 10% das mulheres em idade reprodutiva e está associada a um impacto negativo significativo na qualidade de vida, comprometendo aspectos físicos, emocionais e sociais. As pacientes frequentemente relatam limitações nas atividades diárias, dificuldades nas relações interpessoais e prejuízos no desempenho profissional, tornando o manejo da doença um desafio tanto para as mulheres quanto para os profissionais de saúde (Baczek et al., 2024).
A relação entre a endometriose e os sintomas de ansiedade e depressão é amplamente documentada, evidenciando a necessidade de uma abordagem holística no tratamento. Estudos apontam que a dor crônica e a incerteza em relação ao prognóstico da doença contribuem para o aumento do sofrimento psicológico. A presença simultânea de dor, ansiedade e depressão forma um ciclo vicioso que agrava ainda mais a percepção da dor e reduz a qualidade de vida das pacientes. Portanto, além do manejo clínico, o suporte psicológico e emocional é fundamental para melhorar o bem-estar geral dessas mulheres (Canete; Panobianco, 2022).
A avaliação da qualidade de vida em pacientes com endometriose é essencial para entender o impacto da doença e orientar intervenções terapêuticas mais eficazes. Ferramentas específicas, como o questionário Endometriosis Health Profile (EHP-30), têm sido amplamente utilizadas para avaliar os efeitos da endometriose em diferentes domínios da vida das pacientes, incluindo a saúde física, bem-estar emocional, relações sociais e atividades sexuais. Estudos realizados com mulheres brasileiras mostram que a doença afeta significativamente todos esses aspectos, destacando a necessidade de intervenções que considerem as múltiplas dimensões do impacto da endometriose (Florentino et al., 2019).
Além disso, a profundidade das lesões endometrióticas está diretamente relacionada à intensidade dos sintomas e ao grau de comprometimento da qualidade de vida. Mulheres com endometriose profunda frequentemente apresentam dores mais intensas e limitações funcionais mais graves, o que reforça a importância de diagnósticos precisos e tratamentos individualizados. A avaliação contínua da qualidade de vida, utilizando instrumentos validados, permite monitorar a eficácia das intervenções e ajustar as estratégias terapêuticas de acordo com as necessidades das pacientes (Yela; Quagliato; Benetti-Pinto, 2020).
Diante desse cenário, o presente estudo busca explorar as diferentes intervenções e fatores psicossociais associados à endometriose, com foco nas estratégias que promovam uma melhora global da qualidade de vida das mulheres afetadas pela doença.
METODOLOGIA:
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, realizada no mês de julho de 2024, utilizando as bases de dados National Library of Medicine via (PubMed), Medical Literature Analysis and Retrievel System Online (MEDLINE) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS). Foram encontrados 38 artigos, dos quais 5 atenderam aos critérios de inclusão: artigos publicados nos últimos cinco anos (2029 – 2024), na língua inglesa ou portuguesa e textos completos gratuitos. Os critérios de exclusão incluíram os que não abordavam o objetivo do estudo e duplicados. Os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) utilizados foram: ((Quality of Life) AND (Women)) AND (Endometriosis), combinadas ao operador booleano “AND”. A metodologia foi selecionada para garantir a inserção dos artigos mais relevantes e atualizados, fornecendo uma visão abrangente sobre o tema a ser abordado.

RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A endometriose é uma doença multifatorial que afeta profundamente a qualidade de vida das mulheres, sendo a dor crônica o principal sintoma debilitante. Nesse contexto, a prática de atividades físicas surge como uma alternativa não farmacológica relevante. Estudos indicam que o exercício regular contribui para a redução da dor e melhora a saúde mental das pacientes ao promover a liberação de endorfinas e a circulação sanguínea, o que pode ajudar a diminuir a inflamação. A adoção de um plano de exercícios como parte de um tratamento multidisciplinar pode trazer benefícios sustentáveis a longo prazo, reforçando seu papel no manejo da doença (Tennfjord et al., 2021).
A comparação entre intervenções cirúrgicas, acupuntura e exercício físico revelou que, embora a cirurgia proporcione alívio imediato da dor, as terapias não invasivas, como a acupuntura e o exercício, são vantajosas na manutenção dos resultados a longo prazo, com menores riscos de complicações. Estratégias integrativas que combinam essas intervenções são fundamentais para otimizar a qualidade de vida das pacientes, destacando a importância de um tratamento individualizado que leve em conta as necessidades específicas de cada mulher (Afreen et al., 2024).
Fatores psicossociais também têm um papel crítico no impacto da endometriose. A intensidade da dor e a qualidade de vida das pacientes estão intimamente ligadas ao estresse, ansiedade e depressão. A literatura aponta que a inclusão de suporte psicológico, como a terapia cognitivo-comportamental, é essencial para reduzir os efeitos emocionais negativos da doença. Esse suporte não apenas melhora o bem-estar psicológico, mas também contribui para um melhor controle da dor e maior adesão ao tratamento (Kalfas, Chisari e Windgassen, 2022).
O impacto global da endometriose vai além dos sintomas físicos, afetando diversos aspectos da vida das mulheres, como as relações interpessoais, a produtividade no trabalho e o bem-estar emocional. Uma abordagem holística, que inclua suporte social e psicológico, é essencial para promover uma melhor qualidade de vida. Essa abordagem deve focar não apenas no alívio da dor, mas também no fortalecimento da rede de apoio e na resiliência emocional das pacientes (Maulenkul et al., 2024).
Outro fator relevante é a relação entre a endometriose e os distúrbios do sono. A má qualidade do sono não apenas agrava a percepção da dor, mas também intensifica sintomas de ansiedade e depressão. Intervenções que promovam a higiene do sono e tratem condições como insônia e apneia são fundamentais para melhorar o bem-estar geral das pacientes e contribuir para um manejo mais eficaz da endometriose (Sumbodo et al., 2023).
Portanto, uma abordagem multidisciplinar que integre intervenções físicas, psicológicas e sociais é fundamental para o manejo eficaz da endometriose, promovendo melhorias significativas na qualidade de vida das mulheres afetadas pela condição.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
A endometriose é uma condição complexa que afeta a saúde física, emocional e social das mulheres, exigindo abordagens terapêuticas integradas e personalizadas. As evidências destacam que a prática regular de exercícios físicos contribui para a redução da dor e melhora a saúde mental, enquanto intervenções não invasivas, como a acupuntura e a terapia cognitivo-comportamental, auxiliam na manutenção dos resultados a longo prazo e no manejo dos fatores psicossociais. Além disso, a atenção à qualidade do sono e ao controle do estresse desempenha um papel importante no bem-estar global das pacientes.
Embora os benefícios dessas intervenções sejam promissores, ainda há lacunas significativas no conhecimento sobre os mecanismos subjacentes a essas melhorias e sua aplicabilidade em diferentes contextos clínicos. Portanto, são necessárias mais pesquisas para investigar a eficácia comparativa das abordagens terapêuticas, identificar protocolos de exercício ideais e explorar estratégias personalizadas que considerem a diversidade de sintomas e necessidades individuais das pacientes. A continuidade dos estudos permitirá o desenvolvimento de tratamentos mais eficazes e direcionados, promovendo uma melhor qualidade de vida para as mulheres com endometriose.
Referências
AFREEN, S. et al. Comparing Surgical, Acupuncture, and Exercise Interventions for Improving the Quality of Life in Women With Endometriosis: A Systematic Review. Cureus, 24 jul. 2024.
BACZEK, G. et al. O impacto da endometriose na qualidade de vida das mulheres. Ginekologia Polska, v. 95, n. 5, p. 356-364, 2024.
CANETE, A.S.; PANOBIANCO, M.S. Endometriose: associação entre qualidade de vida relacionada à saúde e sintomas de ansiedade, depressão e dor. 2022. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.
FLORENTINO, A.V.A., PEREIRA, A.M.G., MARTINS, J.A., LOPES, R.G.C., & ARRUDA. Quality of life assessment by the endometriosis health profile (EHP-30) questionnaire prior to treatment for ovarian endometriosis in Brazilian women. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia/RBGO Gynecology and Obstetrics, v. 41, n. 09, p. 548-554, 2019.
KALFAS, M.; CHISARI, C.; WINDGASSEN, S. Psychosocial factors associated with pain and health‐related quality of life in Endometriosis: A systematic review. European Journal of Pain, v. 26, n. 9, p. 1827–1848, 8 jul. 2022.
MAULENKUL, T. et al. Understanding the impact of endometriosis on women’s life: an integrative review of systematic reviews. BMC Women s Health, v. 24, n. 1, 19 set. 2024.
SUMBODO, C.D. et al. The relationship between sleep disturbances and endometriosis: A systematic review. European Journal of Obstetrics & Gynecology and Reproductive Biology, v. 293, p. 1–8, 9 fev. 2024.
TENNFJORD, M. K.; GABRIELSEN, R.; TELLUM, T. Effect of physical activity and exercise on endometriosis-associated symptoms: a systematic review. BMC Women’s Health, v. 21, n. 1, 9 out. 2021.
YELA, D.A., QUAGLIATO, I.P., & BENETTI-PINTO, C.L. Quality of life in women with deep endometriosis: a cross-sectional study. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, v. 42, p. 90-95, 2020.